Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste e viva
(Música: Admirável chip novo, Pitty)
Admirável chip novo é uma paráfrase
do título de um famoso romance chamado: “Admirável Mundo Novo” do inglês Aldous Huxley, o
livro trata de uma sociedade fictícia existindo numa era pós–cristã, uma
sociedade plenamente perfeita, harmonicamente desenhada livre de qualquer
conflito e dissabores próprios a realidade humana atual, sem apreciação dos
tradicionais dogmas sociais de comportamento, toda desordem e insegurança seria
anulada por o consumo de uma droga denominada “Soma”. O nome do livro é
infundido em uma fala da personagem "Miranda" do livro “A Tempestade”, de
Shakespeare.
Não é novidade nenhuma
músicas inspiradas nesse livro, a banda Inglesa Iron Maidem tem uma canção que
leva o nome do texto em inglês (Brave New World), e o grupo “The Strokes”,
possui uma composição intitulada “Soma”, alusiva a pílula tomada pelas pessoas
no romance de Huxley, isso sem contar muitos outros músicos e cineastas que se
espelharam na obra do Britânico.
O motivo de mencionar a
música da Pitty é pela simpatia a sonoridade musical dela e por conta da forma como tá exposta as
idéias do livro "Admirável Mundo Novo" nessa canção, com imperativos verbais (tenha, gaste, viva...),
que traduzem bem nossa realidade.
Manipular as idéias em massa
há muito tempo é o anseio das classes dominantes, já se tem notícia
disso no mundo antigo, um caso conhecido, por exemplo, foi quando o Faraó Ramsés II decidiu escravizar os hebreus
com medo de uma ociosidade que levasse o povo a reflexão, pois quando percebessem a
força com a grandiosidade numérica deles, poderiam se atrever a tentar tomar o reino do Faraó.
A verdade é que nunca se viu
uma manipulação de pensamento tão absurda como atualmente, isso é possível
especialmente pela dinâmica da informação própria do nosso tempo, são diversos
os mecanismos disponíveis para a elite social (empresários, políticos etc),
imprimir sua vontade na mente de todos e determinar o que devemos pensar,
falar, comprar, ser, usar, ficou extremamente fácil. Os interesses capitalistas
nos dominaram de uma forma absurda, somos obrigados a decodificar nosso companheiro
de sociedade como particular concorrente, alguém que devo derrotar no
vestibular, no mercado trabalhista etc; o preciso aprender mais do que os outros para
lutar bem armado; estar bem preparado não com a finalidade legítima do saber,
que é engrandecer-me enquanto ser humano e desfrutar das consequências disso,
mas de eliminar concorrentes, um verdadeiro absurdo! O maior prejuízo parece
ter sido mesmo no campo das relações humanas.
Ainda para sermos
considerados emergentes na sociedade temos todo um script de consumo, “compre
isso, beba aquilo”, imposto radicalmente, especialmente por multinacionais. Sem
mencionar o “coisificismo” predominante no mundo industrializado, com a façanha
incrível de transformar seres humanos em indivíduos descartáveis, em coisas com
prazo de validade, a idade não é sinônimo de acúmulo de conhecimento, mas sim
de declínio. A música mencionada no início do post nos retrata como máquinas:
“Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado
Mas lá vem eles novamente
E eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema”
É como se tivéssemos um
sistema funcional instalado e reinstalado em nossa mente quando preciso, fazendo-nos
mecanicamente corresponder as perspectivas do sistema vigente, tudo sem poder
nenhum de questionamento ou qualquer reação contrária.
O modelo econômico que
domina o planeta foi inclusive sacralizado como fonte segura de felicidade e a
maioria parece crer nisso, pois cegamente o segue, mas não nos iludamos, ele
não o é! Ele constituiu uma geração emocionalmente destruída e consumida pela
ansiedade, juntamente com grupos economicamente subjugados e privados de
esperança em mudanças no futuro! Por isso, um de meus maiores ídolos é o ateu
Karl Marx, poderoso em criticar o sistema capitalista, em seu livro “O
Capital”, expõe toda a barbárie capitalista, mostrando inclusive que ele
subtrai a liberdade humana.
Não fazer parte do sistema
capitalista é impossível, mas é possível repudiar a apreciação de vida imposta
por ele, arquitetemos nossa mente com algo mais excelente que nos livre da aguda
futilidade e indiferença ao próximo, que a vil mentalidade capitalista seja uma moda da
qual estejamos fora dela com orgulho.
Por: Wagner Fernandes (Bacharel em teologia e graduando em letras)
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